
O ouro, que já brilhou forte em 2024, ficou ainda mais reluzente neste ano. Entre janeiro e setembro, a onça troy do metal precioso – cuja história remonta à pré-história – deu um salto de quase 40%, dando um baile no S&P 500 (12,52%), no Ibovespa (20,7%) e até no novo “queridinho” dos governos e empresas, o Bitcoin (26,16%).
São várias as razões por trás desse crescimento. De um lado, há o enfraquecimento do dólar americano e a expectativa de mais cortes na taxa básica de juros nos Estados Unidos. Quando os juros caem, os Treasuries (títulos do tesouro do país) do país pagam, perdendo um pouco da atratividade.
Do outro, o mundo ainda vive tensões geopolíticas – como a guerra entre Ucrânia e Rússia e o conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas -, o que leva investidores a buscar ativos mais seguros. Não só os institucionais, mas também os bancos centrais, entre eles a China, que vem aumentando cada vez mais suas reservas. Os EUA, no entanto, ainda são os maiores detentores do metal.
“A atração do ouro como classe de ativos reside em sua combinação única de estabilidade, liquidez e apelo global ao longo dos séculos. Como um ativo físico sem risco de crédito, o ouro preserva seu valor ao longo dos ciclos econômicos e atua como uma proteção contra inflação, instabilidade geopolítica e desvalorização cambial”, disse o grupo financeiro Mirabaud em relatório publicado neste mês.
Os 10 maiores detentores de ouro:
Países | Quantidade em ouro (toneladas) |
EUA | 8.133,5 |
Alemanha | 3.350,3 |
FMI | 2.814,0 |
itália | 2.451,9 |
França | 2.437,0 |
Rússia | 2.329,6 |
China | 2.300,4 |
Suíça | 1.039,9 |
Índia | 880,0 |
Japão | 846,0 |
Vale a exposição no metal?
Com todo esse cenário positivo para o ouro, os analistas já começaram a projetar mais altas para o metal precioso. Na quarta-feira (17), dia em que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) cortou 0,25 ponto percentual os juros do país, analistas do Deutsche Bank elevaram sua previsão para US$ 4 mil em 2026. Considerando o preço da quinta-feira (18), seria uma alta de quase 10%.
Raul Nogueira, economista e CFO da Valios Capital, disse que o ouro é um ativo de reserva de valor, que exerce as funções de proteção contra inflação, hedge em crises (em períodos de estabilidade) e diversificação estrutural, já que tem correlação baixa com ações e bonds.
“O ouro dificilmente será o ativo que ‘multiplica’ a carteira, mas em momentos de crise, ele pode ser o responsável por proteger o capital. É nesse ponto que a percepção do investidor muda e ele entende que o ouro é menos sobre performance absoluta e mais sobre gestão de risco e preservação patrimonial”.
Ele falou que os principais fundos institucionais e a academia apontam que alocações entre 2% e 10% em ouro são suficientes para trazer ganhos de diversificação para a carteira de investimento.
Como investir em ouro?
Há várias formas de investir em ouro. A primeira é a compra física do metal precioso, em joalherias ou casas especializadas, por exemplo. Outra é comprando as ações de mineradoras, como Newmont (BDR: N1EM34), Barrick (BDR: BARR34) e Agnico Eagle (AEM), segundo a Mirabaud.
“À medida que o preço do ouro sobe, as mineradoras de ouro devem gerar mais receita. Ao mesmo tempo, o custo da mineração não muda necessariamente, permitindo a expansão da margem e um crescimento mais rápido dos lucros. As mineradoras de ouro também tendem a pagar dividendos, o que resolve uma das desvantagens da posse física de ouro: a ausência de fluxo de receita com o ativo”.
Há também fundos, ETFs (fundos negociados em bolsa) ou BDRs de ETFs com exposição em ouro, como o SPDR Gold Trust (GLD) e o iShares Gold Trust (IAU) – inclusive, recentemente foi lançado no Brasil um fundo negociado em bolsa que mistura a commodity junto com Bitcoin.
E falando em cripto, há ainda as stablecoins lastreadas no metal precioso. Uma stablecoin é uma “criptomoeda especial” lastreada em algum outro ativo, como dólar e ouro. Duas das mais famosas com exposição ao metal são a Tether Gold (XAUt) e a Pax Gold (PAXG). O valor de mercado dessas duas criptos, segundo dados da plataforma CoinGecko compilados pelo site The Block, não para de crescer e chegou US$ 2,46 bilhões neste mês.

Riscos do ouro
Apesar de todo o brilho, o ouro também tem seus riscos. “O principal é ter a expectativa errada, pois o ouro não é ativo de geração de renda, não paga dividendos ou juros. Ele ‘apenas’ preserva valor e, em certos momentos, se valoriza fortemente”, disse Nogueira, da Valios Capital.
Outro risco é a volatilidade de curto prazo, falou. “Embora seja um hedge, isso não significa estabilidade diária. Em 2013, por exemplo, o ouro caiu quase 30% em um único ano, mesmo com a percepção de que era ativo seguro”.
Há também, de acordo com o especialista, os riscos operacionais do veículo financeiro escolhido para o investimento no metal. “Fundos caros corroem retorno, stablecoins dependem da solidez da emissora e BDRs podem ter baixa liquidez”, finalizou.
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