Quem está prestes a se aposentar em 2026 já precisa começar a se planejar porque o tempo virou um fator estratégico. Depois da Reforma da Previdência de 2019, as regras de transição seguem avançando ano a ano e tornam 2026 decisivo para milhões de brasileiros que já contribuíam antes da mudança constitucional. A diferença entre pedir o benefício no momento certo ou errado pode significar perdas financeiras permanentes, tanto no valor mensal quanto no tempo de espera até a concessão, como alertam especialistas ouvidos pelo InfoMoney.
Na prática, 2026 marca um novo degrau nas exigências da aposentadoria, tornando-se menos corrida contra o tempo e mais um exercício de estratégia. Isso porque quem não completar os requisitos até 31 de dezembro de 2025 já passa a enfrentar critérios mais rigorosos. No sistema de pontos, que soma idade e tempo de contribuição, a exigência sobe para 93 pontos para mulheres, com no mínimo 30 anos de contribuição, e 103 pontos para homens, com pelo menos 35 anos. Já na regra da idade mínima progressiva, as mulheres precisarão ter 59 anos e seis meses, enquanto os homens deverão atingir 64 anos e seis meses, mantidos os tempos mínimos de contribuição.
Algumas regras permanecem estáveis, como a aposentadoria por idade, fixada em 62 anos para mulheres e 65 para homens, além dos pedágios de 50% e 100%. O que muda, porém, não é apenas o acesso ao benefício, mas o impacto direto no cálculo do valor da aposentadoria. Dependendo da regra escolhida, o segurado pode receber desde 60% da média salarial, com acréscimos por tempo adicional, até 100% da média, como ocorre no pedágio de 100%. A escolha errada acompanhará o aposentado pelo resto da vida.
Segundo Gabriel Martel, advogado previdenciário do Fonseca Brasil Serrão Advogados, o maior risco para quem pretende se aposentar em 2026 é confundir urgência com vantagem. “O sistema previdenciário não premia quem pede primeiro, mas quem pede certo. Às vezes, esperar alguns meses muda completamente o valor do benefício”, afirma. Ele destaca que muitos segurados ainda confiam exclusivamente no simulador do Meu INSS, ferramenta útil, mas incompleta. “Há períodos que simplesmente não aparecem ali, como tempo rural, atividade especial, serviço militar ou vínculos reconhecidos na Justiça do Trabalho e ainda não averbados.”
O ponto de partida para qualquer planejamento é o Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS). Mais do que um extrato, ele funciona como a base probatória do pedido. Vínculos sem data de saída, salários abaixo do correto ou indicadores de pendência podem reduzir o valor do benefício ou levar ao indeferimento. Corrigir essas falhas antes do protocolo evita meses de espera e sucessivas exigências do INSS.
Daniela Poli Vlavianos, advogada do Arman Advocacia, reforça que quem está “na boca da aposentadoria” precisa trabalhar com datas exatas, e não estimativas. “Em 2026, poucos meses ou até um único ponto podem separar quem se aposenta de quem terá que esperar mais um ano. A análise precisa considerar exatamente quando cada requisito será cumprido”, explica. Isso inclui verificar se há períodos passíveis de averbação, como atividade rural, tempo como aluno-aprendiz, serviço militar obrigatório ou trabalho em condições especiais exercido até 2019, cuja conversão ainda pode aumentar o tempo total de contribuição.
Outro aspecto pouco explorado é a possibilidade de descartar contribuições. Desde a Reforma, salários mais baixos podem ser excluídos do cálculo, desde que o tempo mínimo seja mantido. Uma escolha técnica nesse ponto pode elevar de forma relevante a renda mensal. Também é essencial avaliar o custo de continuar contribuindo. Em alguns casos, manter pagamentos elevados nos meses finais não gera retorno proporcional no valor do benefício.
Para Bruno Medeiros Durão, advogado previdenciário e presidente do escritório Durão & Almeida, Pontes Advogados Associados, o erro mais comum é protocolar o pedido sem planejamento. “Um requerimento mal feito pode atrasar a aposentadoria por meses ou anos. O ideal é pedir apenas quando CNIS, documentos, regra escolhida e simulações estiverem perfeitamente alinhados”, afirma. Mesmo assim, ele alerta que o segurado deve estar preparado para recursos administrativos ou revisão judicial, já que concessões equivocadas ainda são frequentes.
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Diante desse cenário, organizar documentos, corrigir o histórico contributivo, simular diferentes cenários e escolher a regra mais vantajosa deixou de ser preciosismo e passou a ser uma necessidade. Isso porque em um sistema cada vez mais técnico e rigoroso, planejar não é adiar o benefício, mas garantir segurança financeira por décadas.
A dica dos especialistas é não ter pressa, mas sim precisão na hora da aposentadoria, porque um planejamento bem feito pode garantir mais renda e menos dor de cabeça por décadas.
Pedágio
Avaliação deve contemplar as regras de pedágio, segundo a advogada Tatiane da Silva Ferreira, especialista previdenciário do Cezario de Souza advogados. Isso porque as normas só valem para quem, em novembro de 2019, faltava menos de dois anos para se aposentar, que precisará pagar um “pedágio” de metade do tempo que faltava. “Por esta regra, o valor da aposentadoria costuma ser menor por causa do fator previdenciário”, explica.
Já o pedágio de 100%, paga 100% da média, mas exige uma idade fixa (57 anos para mulheres e 60 para homens) e que a pessoa trabalhe o dobro do tempo que faltava para se aposentar em 2019. Por exemplo: se em 2019 faltavam 2 anos para se aposentar, pela regra de 100% a pessoa terá que trabalhar esses 2 anos + 2 anos de pedágio, totalizando quatro anos. “O sarrafo subiu, desde a Reforma de 2019, e o sistema funciona como uma escada onde o degrau fica mais alto todo dia 1º de janeiro”, afirma Tatiana.
Em 2026, a pontuação subiu 1 ponto e a idade mínima subiu 6 meses. Já as regras de pedágio não mudam o cálculo, mas como o tempo passa, mais pessoas estão terminando de pagar esses pedágios agora em 2026 e conseguindo finalmente o direito ao descanso. “Lembrando sempre que se a pessoa completou os requisitos em 2025 e não pediu, tem direito adquirido e pode usar as regras do ano passado, que eram um pouco mais leves”, acrescenta.
Veja o checklist para não errar
Antes de clicar em “requerer benefício”, vale seguir alguns passos essenciais:
1. Saiba exatamente em qual regra você se encaixa
As regras de transição mudam ano a ano. Em 2026, idade mínima e pontuação sobem novamente. Verifique se você se enquadra na regra dos pontos, na idade mínima progressiva, nos pedágios de 50% ou 100% ou na aposentadoria por idade. A regra mais rápida nem sempre é a mais vantajosa.
2. Revise o CNIS com lupa
O Cadastro Nacional de Informações Sociais é a base do INSS. Confira vínculos sem data de saída, salários registrados abaixo do correto, períodos sem contribuição e indicadores de pendência. Erros aqui reduzem o valor do benefício ou levam ao indeferimento.
3. Procure o “tempo escondido”
Períodos como trabalho rural, serviço militar, atividade especial até 2019, tempo como aluno-aprendiz ou vínculos reconhecidos pela Justiça podem antecipar a aposentadoria ou aumentar o valor do benefício. Esses tempos não aparecem automaticamente no sistema.
4. Organize a documentação antes do pedido
Tenha em mãos todas as carteiras de trabalho, carnês de contribuição, holerites antigos, PPPs e laudos técnicos, além de certidões de tempo rural ou de outros regimes. Em 2026, o INSS está mais rigoroso na comprovação.
5. Simule diferentes cenários
Compare se aposentar imediatamente ou esperar alguns meses. Em muitos casos, adiar o pedido pode garantir um benefício maior para o resto da vida. Use o simulador do INSS como referência, não como decisão final.
6. Avalie se vale continuar contribuindo
Nem sempre pagar mais INSS no fim da carreira aumenta o benefício. As contribuições finais precisam ser estrategicamente calculadas para evitar gasto sem retorno.
7. Escolha o momento certo para protocolar
O pedido deve ser feito apenas quando idade, tempo, regra escolhida e documentos estiverem perfeitamente alinhados. Pedir cedo demais gera exigências; pedir tarde demais pode significar meses de benefício perdido.
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Saiba quais são as principais regras de transição
- Idade Mínima Progressiva:
– Mulheres: 30 anos de contribuição + idade mínima que aumenta 6 meses/ano. Em 2026: 59 anos e 6 meses.
– Homens: 35 anos de contribuição + idade mínima que aumenta 6 meses/ano. Em 2026: 64 anos e 6 meses.
- Regra dos Pontos:
Soma da idade + tempo de contribuição. A pontuação mínima aumenta 1 ponto/ano. Em 2025, era 92 para mulheres e 102 para homens (professores, respectivamente, tinham 85 e 95 em 2023).
- Pedágio de 50%:
– Para quem estava a menos de 2 anos de se aposentar em 2019. Paga-se o tempo que faltava + 50% desse tempo.
– Pedágio de 100%:
Exige o dobro do tempo que faltava para a aposentadoria em 2019. Não exige idade mínima e pode ser vantajosa para o cálculo do benefício.
Aposentadoria por Idade (Regra Permanente):
– Mulheres: 62 anos de idade e 15 anos de contribuição.
– Homens: 65 anos de idade e 20 anos de contribuição.
Como verificar sua situação:
- Acesse o aplicativo Meu INSS.
- Use a função “Simular Aposentadoria” para ver qual regra você se encaixa e o tempo que falta.
Veja como acessar o simulador:
– Entre no Meu INSS com o Gov.br;
– Informe seu CPF e senha;
– Clique em “Do que você precisa?” e escreva “Simular Aposentadoria”;
– Serão exibidas as simulações para todas as regras, antes e depois da reforma da previdência;
– Clique em “Baixar PDF” para mais detalhes.
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