
Enquanto a data para o encontro entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, não é marcada, cresce a apreensão sobre o teor das negociações tanto no Planalto como nos setores afetados pelo tarifaço. Há a possibilidade de uma conversa por videoconferência se dar nesta semana. Mas o que esperar do diálogo entre Lula e Trump? O InfoMoney ouvir três especialistas para responder a essa questão.
A avaliação de Guilherme Casarões, professor da Florida Interational University, é que Trump não vai aceitar passar a imagem de que os Estados Unidos estão sendo passados para trás, nem para o público interno nem para o externo.
“Isso vai exigir certa criatividade por parte da diplomacia brasileira, e a nossa diplomacia é bastante habilidosa nesse sentido, de promover, qualquer que seja o resultado da conversa, como uma vitória para ambos os lados, mas dando ao Trump a possibilidade de cantar a vitória para o seu próprio lado”, afirma Casarões.
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Professor de Relações Internacionais da Unesp, Marcos Cordeiro Pires aposta que esta primeira conversa entre o presidente norte-americano Donald Trump e o presidente brasileiro “vai ser muito coreografada”. “De tal forma que não se utilize imagens para gerar ganho político desproporcional para uma das partes”, diz.
“Eu acredito que já tem alguma questão aplainada entre Donald Trump e os interlocutores brasileiros. É algo que a gente deveria olhar com alguma desconfiança.” Para ele, o motivo é o fato de o secretário de Estado Marco Rubio, aparentemente, não estar envolvido na negociação.
Pires lembra que a primeira reunião entre Marco Rubio e o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, não teve nenhum comunicado oficial, e o chanceler brasileiro preferiu não falar à imprensa, repassando a informação apenas a Lula. “Imagino que deve ter sido uma conversa bastante tensa”, afirma Pires.
Para o professor de Relações Internacionais da UnB Antonio Jorge Ramalho, o presidente norte-americano não raro se comporta de maneira “infantil”. Mas ele acredita que o Itamaraty saberá conduzir o processo que levará ao encontro, caso ele se materialize, de maneira a reduzir esse risco. “Por seu lado, Lula nunca foi ingênuo e é muito intuitivo; saberá se livrar de armadilhas”, avalia.
Negociação de tarifas
De acordo com Casarões, o que interessa ao Brasil é uma conversa técnica sobre questões comerciais que foram ou poderão ser afetadas em função das tarifas impostas por Trump.
“Não interessa ao Brasil discutir nenhuma pauta política, até mesmo porque Lula e o governo brasileiro têm reforçado diversas vezes ao longo dos últimos meses que a soberania e a democracia do Brasil são inegociáveis.”
Segundo ele, o que interessa ao Brasil é negociar tarifas para produtos que foram mais afetados. “Eu diria que o agronegócio, em particular, tem mais preocupações com relação àquilo que vende para os Estados Unidos, ainda uma fração menor do comércio global ou das exportações, sobretudo do Brasil para os Estados Unidos”, avalia.
Casarões cita como exemplos o café, a carne e frutas, que acabaram ficando de fora das isenções tarifárias e foram ou potencialmente serão muito afetados nos próximos meses e anos.
Segundo o professor da Unesp Marcos Cordeiro Pires, empresários brasileiros tiveram papel importante na intermediação desta conversa, particularmente a JBS.
Do ponto de vista econômico, o especialista acredita que a discussão vai entrar nos minerais críticos. “O Brasil é o segundo país com as maiores reservas de terras raras do mundo, tem importantes reservas de cobalto, de níquel, é o maior produtor mundial de nióbio. Isso tende a ser uma questão estratégica para os Estados Unidos encontrar fornecimento desses minerais dentro do hemisfério ocidental, que não teria nenhuma restrição, por exemplo, em caso de conflito que pudesse ocorrer no contexto indo-pacífico”, avalia.
O professor Antonio Ramalho aponta que os setores mais sensíveis às tarifas no Brasil estão diversificando parceiros, redirecionando exportações e recebendo apoio do governo brasileiro. “Os setores mais afetados pelas tarifas nos EUA pressionam o governo, que vê a inflação elevar-se. Cedo ou tarde, no caso do Brasil, essa situação se normalizará, provavelmente em patamares mais elevados, implicando redução do fluxo comercial”, afirma.
Para ele, haverá um aspecto positivo que é a materialização de acordos preferenciais de comércio com terceiros países, alguns dos quais estavam em negociação há décadas.
“No fim dessa linha, os EUA terão reduzido sua influência no âmbito global e sua participação no comércio mundial, em prejuízo de sua população. Se o Brasil souber aproveitar as oportunidades criadas por este rearranjo, terá mais resiliência nas trocas comerciais e uma economia mais aberta, em benefício dos consumidores brasileiros”, avalia.
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