Pressionada por Rússia e China – e por Trump – Otan pretende gastar mais com defesa

A próxima reunião de cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), marcada para os dias 24 e 25 de junho em Haia, na Holanda, pode representar um redesenho de poderes dentro da aliança. Com o grupo pressionado pelos avanços do poderio militar de Rússia e China e ameaçado por cortes de contribuição financeira dos Estados Unidos, há expectativa que os demais sócios vão aprovar uma substancial elevação dos gastos militares na próxima década.

Em um evento recente no think tank Chatham House, o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, confirmou que será buscado um compromisso para que os líderes dos países aliados concordem em elevar seus gastos com defesa para o equivalente a 5% do PIB, sendo 3,5% diretamente em requisitos militares e o restante em infraestrutura e construção de capacidade industrial para o setor.

Rutte reforçou que os aliados atingirão ao final deste ano o objetivo traçado em 2014 de gastar 2% do PIB em defesa.

Segundo um relatório do Instituo Internacional de Estudo Estratégicos (IISS, na sigla em inglês) os custos financeiros e os requisitos industriais de defesa para a parcela europeia da Otan conseguir se defender contra uma futura ameaça russa, sem ajuda dos EUA, equivaleria hoje a aproximadamente US$ 1 trilhão.

Para defender esse gasto maior, Rutte comparou que a economia da Otan é 25 vezes maior que a da Rússia, com US$ 50 trilhões de PIB contra US$ 2 trilhões. Mas reforçou que essa economia menor está produzindo quatro vezes mais munição do que toda a Otan no momento.

Ao listar os desafios, o secretário-geral descreveu o potencial bélico dos possíveis adversários, destacando que, por causa da Rússia, a guerra voltou à Europa, e que há também uma renovada ameaça de ataques terroristas.

“A Rússia se uniu à China, Coréia do Norte e Irã. Eles estão expandindo suas forças armadas e suas capacidades. A máquina de guerra de Putin está acelerando – não desacelerando. A Rússia está reconstituindo suas forças com tecnologia chinesa e produzindo mais armas mais rápido do que pensávamos”, alertou.

Segundo seu relato, em termos de munição, a Rússia produz em três meses o que toda a Otan como um todo consegue produzir em um ano. A base industrial de defesa russa deve produzir só neste ano 1.500 tanques, 3.000 veículos blindados e 200 mísseis Iskander.

“A Rússia pode estar pronta para usar a força militar contra a Otan dentro de cinco anos. Não vamos nos enganar, estamos todos no flanco oriental agora. A nova geração de mísseis russos viaja muitas vezes a velocidade do som. A distância entre as capitais europeias é apenas uma questão de minutos. Não há mais Oriente ou Ocidente – há apenas a Otan”, disse.

Ele também afirmou que a China modernizando e expandindo suas forças armadas “a uma velocidade vertiginosa”. Na descrição de Rutte, o gigante asiático já possui a maior Marinha do mundo e que sua força de batalha deve crescer para 435 navios até 2030. “A China também está construindo seu arsenal nuclear. E pretende ter mais de 1.000 ogivas nucleares operacionais, também até 2030”, listou.

Para o IISS, se as forças dos EUA se retirassem do teatro europeu a partir de meados de 2025, a janela de vulnerabilidade da Europa se abriria rapidamente. “Os aliados europeus não apenas precisariam substituir as principais plataformas militares e mão de obra dos EUA – esta última estimada em 128.000 soldados – mas também resolver as deficiências no espaço e em todos os domínios de inteligência, vigilância e reconhecimento”, informou o instituto em sua análise.

Sobre as necessidades europeias, Rutte disse as forças armadas locais precisam de milhares de veículos blindados e tanques e milhões de projéteis de artilharia a mais. “E devemos dobrar nossas capacidades de capacitação, como logística, suprimentos, transporte e suporte médico. Os aliados investirão em mais navios de guerra e aeronaves”, afirmou detalhando que os aliados dos EUA vão adquirir aos menos 700 caças F-35 no total.

“Também investiremos em mais drones e sistemas de mísseis de longo alcance e investiremos mais em capacidades espaciais e cibernéticas. É claro que, se não investirmos mais, nossa defesa coletiva não será crível. Gastar mais não é agradar a um público de um, é proteger um bilhão de pessoas”, discursou.

Sobre a forma inteligente de gastar os recursos, adotando novas tecnologias, ele usou o exemplo da Ucrânia. “Eles [os investimentos tecnológicos] podem ser econômicos e oferecer o mesmo efeito que o ‘heavy metal’ militar tradicional. Nos campos de batalha da Ucrânia, drones de US$ 400 usados da maneira certa estão abatendo tanques russos de US$ 2 milhões.”

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