
Uma classe relativamente nova em investimento pode ser uma alternativa para a diversificação de carteiras de renda fixa. São os FIC FIDCs, uma sigla para fundos que investem em Fundos de Direitos Creditórios (FIDCs).
Os FIDCs, por sua vez, são fundos que compram dívidas de empresas que têm crédito a receber. Eles são estruturados a partir da aquisição de recebíveis, como duplicatas, cheques e contratos. Só neste ano, de janeiro a setembro, os FIDCs acumularam captação líquida de R$ 63 milhões, de acordo com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Para as empresas, esse mecanismo serve para captar recursos sem o custo do juro alto com a Selic em 15%. Para os investidores em geral, significa maior potencial de retorno dentro da renda fixa.
Confira a captação líquida em R$ milhões dos FIDCs de acordo com dados da Anbima:
FIDC | Janeiro a setembro 2025 | Em 12 meses |
FIDC Fomento Mercantil | 3.667,10 | 7.252,90 |
FIDC Financeiro | 15.730,60 | 26.694,40 |
FIDC Agro, Indústria e Comércio | -20.516,60 | -3.434,50 |
FIDC Outros | 64.128,60 | 85.354,50 |
FIDC (total) | 63.009,70 | 115.867,30 |
Rentabilidade de CDI + 3%
Segundo Angelo Belitardo, diretor de gestão da Hike Capital, os FIC FIDCs oferecem rentabilidade acima da média de outras opções de renda fixa.
“Eles batem praticamente todos os benchmarks, até IMAP B, IPCA + 8 e IPCA + 10. Eles dão uma rentabilidade de CDI + 2% ou até CDI + 3%. A grande questão é o efeito no longo prazo. O objetivo é ganhar retorno de pouquinho em pouquinho, rendendo juros sobre juros. Com isso, você cria um caminhão de dinheiro no futuro”, explica Belitardo.
Segundo ele, os FIC FIDCs perdem apenas para as debêntures incentivadas em termos de rentabilidade.
“Enquanto produtos como CDBs e títulos do Tesouro tendem a oferecer maior ‘segurança’ e liquidez, o FIDC proporciona maior potencial de retorno, pois investe em operações de crédito originadas na economia real — como recebíveis comerciais, financeiros ou imobiliários”, explica Paulo Morais, diretor de DCM da GCB Investimentos.
“Ele se destaca como uma opção complementar na composição de carteira, equilibrando risco e retorno e permitindo ao investidor diversificar sua exposição dentro do universo de renda fixa”, diz.
Como investir em FIC FIDCs
Antigamente, os FIDCs eram destinados apenas a investidores institucionais, como grandes empresas do mercado, fundos de pensão, seguradoras, grandes gestoras de patrimônio e bancos, explica Belitardo.
Agora, o que aconteceu foi o surgimento dos FIC FIDC, que são fundos que investem em múltiplos FIDCs. “Eles começaram a ser destinados ao investidor de varejo, permitindo que o investidor de varejo tenha exposição a esse mercado por meio desse veículo”, explica.
Segundo Belitardo, para o perfil conservador, recomenda-se alocar de 10% a 20% da carteira em FIC FIDC.
Este tipo de investimento é feito por meio de uma gestora ou distribuidora de valores mobiliários com registro na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). São elas que, após análise criteriosa, estruturam fundos de investimentos em FIDCs.
Essa análise profissional é necessária porque estes fundos antecipam milhares de recebíveis simultaneamente, tornando difícil a análise de cada operação por um investidor leigo.
Oito motivos para investir
Um atrativo deste tipo de investimento é a liquidez, destaca Moraes, que varia conforme o regulamento do fundo, mas pode ter prazos de resgate de 30 dias – período em que o dinheiro continua rendendo até cair na conta.
Outros prazos, no entanto, podem se estender para 60, 90, 180 dias ou mais, devido à natureza ilíquida dos ativos de crédito. Além disso, é preciso ficar atento aos custos típicos, como taxa de administração, de gestão e a incidência de IOF.
Confira, abaixo, uma lista elaborada pela Hike Capital com motivos que podem atrair o investidor para este tipo de investimento:
- Isenção de come-cotas, o que acelera o acúmulo do patrimônio. Este tipo de tributo se refere a uma cobrança antecipada e semestral do Imposto de Renda. Porém, no FIC FIDC, o investidor paga somente no resgate da cota, caso o fundo tenha mais do que 67% do patrimônio líquido investido em direito creditório.
- Presença massiva de investidores institucionais como fundos de pensão, seguradoras, gestoras e bancos. “Em termos percentuais, é a classe da renda fixa que mais cresce no Brasil. Atualmente, a classe já possui mais de R$ 700 bilhões investidos”, afirma Jonas Carvalho, CEO da Hike Capital.
- Prazos curtos de resgate e sem taxas ocultas, com liquidez comum entre 30, 45, 60 e 90 dias.
- Aumento contínuo do spread de retorno em relação ao CDI. Como a oscilação nos FIC FIDCs são próximas de zero, o investidor usufrui o benefício do juros sobre juros. O efeito do juros sobre juros ao longo do tempo é refletido no aumento do excesso de retorno do fundo em relação ao CDI, ou seja, o retorno em termos percentuais do CDI vai aumentando ano após ano.
- O retorno dos FIC FIDCs conservadores supera, em diversas janelas históricas, o retorno dos benchmarks de maior performance, como o IMAB, IMAB e IDA, com uma menor oscilação e maior liquidez.
- Elevada pulverização dos recebíveis, reduzindo o impacto da inadimplência no fundo.
- Ferramentas para controle da inadimplência utilizada por FIDCs conservadores, como elevado índice de subordinação, estrutura de garantias, seguro de crédito, dentre outros.
- As taxas de administração, performance, gestão dentre outras, são todas pagas pelos executivos que detêm a subordinação do fundo, ou seja, não são os investidores que arcam com os custos dessas taxas. Dessa forma, as taxas mencionadas não impactam na rentabilidade do fundo, como é o caso do restante da indústria de fundos de investimento.
Um motivo para ficar atento: risco de fraude
Como o investidor de varejo não tem visibilidade integral das carteiras de todos os FIDCs investidos, alerta Morais, ele pode — e deve — buscar informações antes de investir.
Entre as informações estão a lâmina e o regulamento do fundo, os relatórios periódicos da gestora. Vale ainda verificar o registro na CVM e o histórico e reputação da gestora.
Belitardo destaca que o investidor deve ficar atento ao índice de subordinação, que mostra o quanto o fundo pode absorver de perdas por inadimplência sem que o investidor seja afetado. Segundo ele, um “nível ótimo” é de 30%. Já o nível de inadimplência máxima deve ser de 6%.
Além disso, muitas gestoras que trabalham com este tipo de produto acrescentam mecanismos de proteção ao investidor, como as seguradoras de crédito, ou ainda, entram na empresa com participação societária, para evitar fraudes.
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