
Quem visita Aruba, um país insular na costa da América do Sul, sai de lá entendendo por que o lema “One Happy Island” – “Uma ilha feliz”- está por todos lados. Ele estampa de camisetas, bonés e casacos até o visto carimbado no passaporte dos turistas. Cercada por praias de água cristalina, orlas repletas de hotéis e temperatura amena por todo o ano, Aruba parece reunir todos os ingredientes para alegrar viajantes.
Mas a receita de sucesso está longe de ser o resultado de um acaso fortuito. Aruba, que tem sua economia totalmente voltada para o turismo, colhe os frutos de uma estratégia executada ao longo de décadas.
A convite do governo de Aruba, o InfoMoney visitou o país para entender como uma pequena ilha no Caribe se tornou uma referência em um setor competitivo não só na sua região, mas mundialmente.
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Reinvenção de longo prazo
Hoje, 80% do PIB do país vem de atividades ligadas ao turismo. Mas não foi sempre assim. Em menos 50 anos, Aruba deixou para trás uma economia baseada no refino do petróleo para se tornar um dos três países mais dependentes do turismo no mundo, segundo dados do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC em inglês).
Antes uma colônia holandesa, a ilha conquistou sua independência no ano de 1986, enquanto enfrentava uma crise econômica. Longe de ter seu olhar voltado ao turismo, a nação recém-criada se viu às voltas com um problema industrial: o fechamento de sua última refinaria de petróleo diante das dificuldades de competir no mercado internacional. Com o pilar essencial de sua economia desabando, a solução veio do mar (e do ar): o setor de turismo, que vinha se fortalecendo no Caribe. Por isso mesmo, Aruba precisou encontrar o seu próprio nicho para concorrer com outros destinos já estabelecidos.
Foi neste contexto, durante os anos 80, que o país adotou o slogan “One Happy Island”. O lema marcou o trabalho de construção de imagem que alavancou Aruba a uma potência no turismo mundial. Em poucas décadas, o país desenvolveu, quase a partir do zero, uma reputação como destino desejado para famílias.
Por isso mesmo, o trabalho se torna contínuo na manutenção e expansão dessa imagem: “Aruba vem investindo mais em promoção de marca, sempre partindo do fundamental: as praias, o sol e o mar, além da segurança e hospitalidade”, destaca Ronella Croes, CEO da Autoridade de Turismo de Aruba, órgão responsável pela promoção do setor no país. Croes adiciona: “Queremos posicionar Aruba como um destino com nível de qualidade e luxo, assim como para casais e mulheres solteiras. Mas não é algo pensado apenas no curto prazo, para dez anos”, afirma.
A aposta é compreensível: segundo dados do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC em inglês), a indústria de viagens e turismo representa cerca de 10% da economia global. Em 2024, o impacto no PIB do planeta foi de cerca de R$ 58 trilhões. O país latino-americano ainda recebe um percentual pequeno deste montante: R$ 19 bilhões. Mas a estratégia é crescer essa fatia e o caminho para fazer isso passa por uma diversificação de público.

De olho em novos mercados
Em 2024, a ilha teve um crescimento de 11% em seu produto interno bruto. Segundo o governo local, os números mostram que o país conseguiu superar o patamar que havia alcançado 2019, no período pré-pandemia.
Foram dois milhões de visitantes no ano passado – um número duzentas vezes maior do que a sua população de cerca de 100 mil pessoas. E oito em cada dez turistas vêm dos Estados Unidos, por voos diretos ou em uma das dezenas de navios de cruzeiro que atracam no porto da capital de Oranjestade.
Apesar da relação quase simbiótica com os americanos do Norte que buscam na ilha as praias e o calor caribenhos, Aruba tem olhado cada vez mais para o Sul em busca de novas oportunidades em mercados emergentes.
“A contribuição total da América Latina cresceu 38% no ano passado. O enfoque na região faz parte da estratégia de Aruba”, explica Croes.
A atratividade do mercado latino pode ser sentida em toda a região, inclusive no Brasil: dados da Embratur mostram que o país bateu o recorde de visitantes internacionais no primeiro semestre de 2025, muito impulsionado pela visita de vizinhos continentais. Argentinos, chilenos, uruguaios e paraguaios representam quatro das cinco nacionalidades mais comuns entre os turistas em solo brasileiro.
Para aproveitar o setor aquecido, o governo de Aruba investiu em parcerias com companhias aéreas para oferecer voos diretos até o aeroporto de Queen Beatrix. O destino hoje já é acessível a partir de Lima, Bogotá e, em breve, Buenos Aires.
No Brasil, a Gol inaugurou no final de 2024 um voo direto a partir de Guarulhos, em São Paulo. O resultado? Mais de 160 mil visitantes latinos no primeiro semestre de 2025. São seis países da região figurando entre as 10 nacionalidades mais comuns entre os turistas, incluindo os brasileiros.
Para aumentar o público, o desafio é o de atrair perfis diferentes de viajantes sem renunciar ao público cativo – 25% dos turistas em 2024 não eram de primeira viagem e o mercado de timeshare, baseado na compra de “temporadas anuais” em hotéis, se mantém relevante no país.
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Recursos finitos
Com extensão de 180km2, Aruba enfrenta uma questão cada vez mais comum por todo o planeta, em especial entre os destinos notáveis pelo turismo ecológico: as transformações climáticas, o estresse dos recursos locais por superlotação e o impacto ambiental dos viajantes.
De espaço limitado e com sua orla bastante desenvolvida, Aruba busca maneiras de garantir sua expansão turística sem colocar em risco a sobrevivência de suas praias, ecossistemas e infraestrutura.
Um dos desafios mais emblemáticos está justamente no tratamento de água, abundante no mar, mas escassa na ilha: a chegada de mais e mais turistas aumentou consideravelmente a pressão no sistema de esgoto ao longo das décadas.
Para tentar solucionar o problema, o governo instituiu uma taxa de sustentabilidade para todos os ingressantes na ilha. Seguindo um modelo utilizado em outras partes do mundo – como no caso da taxa de preservação ambiental em Fernando de Noronha e Ubatuba, no Brasil – a cobrança de US$ 20 (cerca de R$ 110, no câmbio atual) foi implementada em 2024.
Apesar de receios originais, a mudança não espantou os turistas e, segundo o governo de Aruba, serve como base para um investimento de grande porte na construção de uma nova estação de tratamento de água para a ilha.
Croes explica o racional por trás da iniciativa – e do projeto sustentável de crescimento do turismo em Aruba: “Trata-se de uma medida para nos prepararmos para o futuro. Crescer hoje é diferente do que víamos como crescimento ontem”.
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