Tensões globais elevam o ouro – e o preço das joias: vale o investimento?

As tensões internacionais costumam impulsionar o ouro, visto como porto seguro em tempos de crise. Só neste ano, em meio aos conflitos no Oriente Médio, a onça-troy subiu quase 25%, para US$ 3.271, segundo dados da plataforma Trading View.

Esse avanço impactou não só o metal em si, mas também os produtos derivados e o comércio de joias. Lojas consultadas relataram aumentos de 20% a 30% em peças como anéis, brincos e colares nos últimos meses – e, em alguns casos, os preços dobraram em dois anos.

Em alguns locais, como na Front Row, reseller localizado na cidade de São Paulo (SP) especializado em de produtos de moda de alto padrão para o público feminino, especializado em bolsas Hermès, joias e relógio, houve crescimento da procura.

”São clientes com perfil de ‘colecionadoras’ que ponderam os valores e valorização dos bens e compram como ideia de reserva de valor e construção patrimonial. Não é uma compra por impulso ou tendência’’, explicou Lilian Marques, CEO da Front Row, cujo escritório fica no no Itaim Bibi, em São Paulo. 

A loja projeta um aumento de 85% no faturamento em 2025, impulsionado principalmente pela expansão no mercado brasileiro e pelo crescimento nas vendas dos segmentos de joias e relojoaria.

Clientes querem revender ouro

A Lincoln Joias, tradicional joalheria de Curitiba (PR), também sentiu o impacto da alta no preço do ouro, mas com um comportamento diferente por parte dos clientes. Em vez de aumento nas vendas, houve maior procura por reformas de joias antigas e pela venda de peças paradas.

“Não sentimos aumento na busca por joias como investimento. O que cresceu foi o número de clientes querendo reformar joias antigas ou vender”, disse Datsa Meyer Berrocal, diretora da marca. Um fenômeno curioso observado pela joalheria é o reaproveitamento de antigas barrinhas de ouro por clientes interessados em transformá-las em novas joias.

Com a valorização do metal, peças esquecidas passaram a ter um novo valor também na loja da capital paranaense. “Um par de alianças que custava R$ 5 mil há dois anos hoje sai por R$ 10 mil. Um anel foi de R$ 4 mil para R$ 7.500”, contou. “Em termos de volume, a média mensal de vendas se mantém estável. O que houve foi um aumento de 20% a 30% no valor, devido ao reajuste dos preços.”

Como nem sempre é possível repassar integralmente esse aumento ao consumidor, as joalherias têm apostado em peças menores ou em materiais alternativos, como ouro 14K ou prata banhada.

Entre os consumidores mais atentos ao valor patrimonial, correntes e pulseiras maciças estão entre as mais procuradas, segundo Datsa. Ainda assim, a maioria compra pelas questões estéticas e simbólicas – e não como investimento – , disse.

Investir em joias faz sentido?

Márcia Jorge, stylist e consultora de marca pessoal, acredita que sim, desde que observados critérios como o tipo de metal (especialmente ouro 18k ou 24k), a marca, o design, o processo de fabricação e o valor histórico da peça.

”Sempre que existem tensões comerciais entre grandes potências, quadro de inseguranças e incertezas, a busca por ouro aumenta, não só como diversificação no portfólio de investimentos, mas por joias de ouro que também é uma maneira de investir”, falou.

Já Fábio Murad, economista e CEO do Super ETF, discorda. Apesar de joias conterem ouro ou pedras preciosas, elas são, essencialmente, bens de consumo com valor emocional, estético e simbólico, de acordo com o especialista.

”O investimento real está em ativos que oferecem liquidez, precificação transparente e possibilidade de rentabilidade, como ações, fundos ou ETFs. Acho que joias só fazem mais sentido em contextos muito específicos – como proteção física de patrimônio em cenários extremos ou quando há um forte componente afetivo ou colecionável envolvido’’, disse. 

Mas quem decidir investir em ouro via joias, ele dá algumas dicas. ”É essencial exigir certificação da pureza do ouro e das pedras, comprar de fontes confiáveis e com nota fiscal, além de ter clareza de que a revenda pode ser difícil’’. 

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